A vitória dos derrotados

Pablo Aguirre
26/04/2019
Comunhão

“ E sendo acusado pelos principais sacerdotes e pelos anciãos, nada respondeu. Então lhe perguntou Pilatos: não ouves quantas acusações te fazem? Jesus não respondeu nem um palavra, vindo com isto a admirar-se grandemente o governador.” Mt 27:12 – 14

Não sei você, mas sempre tive uma ideia – talvez influenciado por filmes e televisão, mas eu pensava de que uma pessoa com muita sabedoria, conhecimento ou, no caso de um cristão, com discernimento espiritual, jamais poderia perder uma discussão. Ou, melhor, ela teria a capacidade de desconstruir a opinião ou as ideias de qualquer oponente provando para os seus ouvintes que “um homem de Deus” sempre prevalece diante de um embate.

Até que um dia, lendo o livro Ortodoxia de G.K. Chesterton, ele disse uma coisa muito interessante: : ele observou que se uma pessoa sã discute com um louco, é extremamente provável que tal pessoa leve a pior, pois, sob muitos aspectos, a mente do louco não se atrapalha com as coisas que acompanham o bom juízo. Ela não tem compromisso com a verdade ou com o bom senso. De modo que a sua abordagem torna-se impossível de ser rebatida por alguém que usa a sanidade como uma bússola moral.

É difícil expressar como isso me ajudou. Tais palavras entraram iluminando o meu entendimento e me trouxeram uma profunda e verdadeira libertação. Naquele dia, eu entendi que, muitas e muitas vezes ou senão todas as vezes em que um piedoso conversar com um ímpio ele se calará. Isso porque, como servo da luz ele respeitará o próximo. Se recusará a ofendê-lo ou como é comum nas discussões, ele não extrapolará os limites da honra insinuando mentiras, difamações ou calúnias. Por outro lado, o ímpio, que não teme as consequências das suas palavras, abrirá a sua boca propalando arrogâncias, ofensas e ódio.

Posso entender melhor o silêncio do nosso Senhor Jesus quando esteve diante do Sumo Sacerdote, de Herodes e de Pilatos. Ao contrário do que o conceito de persuasão terrena pode julgar o Senhor da Glória, o verbo de Deus, sabia que existem muitas situações que não são resolvidas com palavras. Ao se calar, o Senhor falou muitas coisas. Uma delas é a clara percepção de que as coisas espirituais se discernem espiritualmente e não através da razão humana.

Uma das coisas mais terríveis que pode acontecer conosco é pagarmos mal com mal. Ofensa por ofensa. Calúnia por calúnia. Ameaça por ameaça. Quando isso acontece o mal vence e Satanás alcança o seu propósito de destruir tudo e todos os envolvidos. Acabamos nos nivelando por baixo, usamos as mesmas armas das trevas, desejamos produzir no outro a mesma dor e morte que ele está tentando causar em nós.

Podemos até sair de uma discussão entre aspas com a “alma lavada” por ter falado algumas verdades na cara da pessoa. Imediatamente, começamos a buscar desesperadamente a nossa auto-justificação no esforço de encontrarmos uma absolvição para nossa conduta. O perigo desse processo em nossos corações é que podemos ficar

cada vez mais insensíveis aos outros nos tornando pessoas com uma consciência cauterizada sempre preparados e dispostos a uma boa briga. Como Paulo diz a TIto: nos tornamos odiosos e odiando-nos uns aos outros. Casamentos são destruídos, pais e filhos se afastam, a fraternidade entre os irmãos desaparece isso tudo porque, muitas vezes, não conseguimos ficar calados.

Aparentemente, para os distraídos ou para os de fora, poderá até parecer que você é uma pessoa fraca. Mas isso é muito pequeno comparado com a paz interior que o Espírito Santo produz. Com a sensação de que o mais importante é testemunhar das coisas santas do caráter de Deus.

Precisamos entender que o Reino de Deus não se regula nos mesmos termos que o reino dos homens. Então, no Reino de Deus, o maior é o menor, quem tem autoridade é o que serve, o rico é o que se faz pobre. Quem quer preservar a sua vida , perde e quem decide morrer, vive. Os primeiros serão os últimos e os últimos serão os primeiros.

De maneira, que devemos andar de modo digno nesta terra sob a perspectiva dos valores morais e espirituais do nosso Senhor. Então vamos perceber que muitas vezes nós ganhamos mas perdemos. E, não raro, muitas vezes nós perdemos, mas na verdade, nós ganhamos.

“ porquanto para isto mesmo fostes chamados, pois que também Cristo sofreu em vosso lugar, deixando-vos exemplo para seguirdes os seus passos, o qual não cometeu pecado nem dolo algum se achou em sua boca, pois ele, quando ultrajado não revidava com ultraje, quando maltratado não fazia ameaças, mas entregava-se àquele que julga retamente“ I Pe 2:21 – 23

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Pablo Aguirre

Peregrino em terra estranha. Aguardando o meu bendito e inevitável destino. Maranata, Vem Senhor Jesus!

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